sábado, 10 de dezembro de 2011

Gente pouco desenvolvida espiritual e emocionalmente

Eu sei que eles é que são os médicos e eles é que sabem.
Mas será normal alguém que padece de um tumor irresecável e irrascível (foi assim que o classificaram) esperar 1 mês pela marcação de uma biopsia? Foi finalmente marcada para a próxima terça-feira, dia 13, às 8,30h, no IPO.
Pergunto-me como é que vou conseguir levar o meu pai no estado debilitado em que se encontra até ao IPO...
Desde há uns dias que notámos estar muito letargico, sonolento, e sempre que acordava, completamente alucinado, com um humor dilacerante, delírios com pessoas e situações sempre muito aflitivas. Liguei primeiro para o Hospital Curry Cabral onde anda a ser seguido na consulta da dor crónica. Fui informada de que podia ser encefalopatia hepática, já que ele apresenta metastases no fígado. Aconselharam a ir às urgências. Depois liguei para o IPO para perguntar se existiam alguns preparativos para a biopsia que se tivessem que cumprir, já que o meu pai toma anti-coagulantes para uma outra doença crónica - claudicação intermitente, e se mantinha a biopsia dado que ele apresenta esta fraqueza gigante. Fui gentilmente atendida por uma administrativa, que sensibilizada, me transferiu a uma enfermeira, que preocupada, me transferiu a um médico. Obrigada Senhor Doutor por me fazer acreditar novamente que a classe médica afinal é feita de carne e osso. Esclareceu-me todas as dúvidas e aconselhou-me a ligar imediatamente para o 112. O que fiz.
Enviaram dois técnicos de emergência médica dos bombeiros que, via-se e sentia-se, gostam do que fazem. Curry Cabral. Senti alívio por terem encaminhado a situação para o CC para depois entrar numa frustração enorme. O médico que o assistiu perguntou-me onde era o problema, ao que respondi pâncreas e fígado. Viu, porque eu levava o processo do meu pai na mão, que andava a ser seguido na consulta da dor crónica e teve o único cuidado de ver a data da próxima consulta. Ao ver que seria na semana seguinte, relaxou. Mediu a tensão - 15/9. E encostou a maca do meu pai a uma parede. Fiquei a saber pelo segurança de serviço que depois seguiria para a sala de tratamentos e hemograma. Uns quarenta minutos depois três injecções e mais qualquer substância líquida de um frasco castanho, esqueceram o hemograma. Enquanto fui fazer um xixi, o meu irmão substitui-me junto do meu pai. Quando cheguei o médico tinha deixado sobre a maca uma receita para a farmácia e desapareceu. Estranhei, perguntei á enfermeira que cuidou de saber se ele tinha tido alta médica, confirmou e retirou a agulha que estava colada com fita adesiva branca para qualquer outro procedimento que parecia estar previsto. O meu irmão pagou a urgência, muito embora o meu pai seja isento, o que irritou a senhora colega administrativa por causa da falta de um papel que deveria andar anexado a um outro que já temos. Enfim... não é simplesmente o paizinho ou a mãezinha dela ... e até tem a sorte de trabalhar na área da saude, que deve dar-lhe um jeitão e estes conhecimentos que o comum cidadão que não está ligado à área da saúde não sabe. Não escondo. Vociferei algumas asneiras.Voltámos a casa, o meu pai pediu uma sopa, continuava com confusão mental, menos acentuada ...  e deitou-se. Dormiu a nota inteira e nós também. Hoje não quer comer e depois da ingestão da antiga medicação mais a receitada ontem, perguntou-me se não achava que mesmo assim, NO FIM, não estava a comer bem ... respondi que não, engoli a vontade de chorar e voltei costas. Afinal ... tenho de ser forte porque ele está a sê-lo.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Ir aos Olivais já não me faz bem!

Custa-me, mais do que isso ...  faz-me mal voltar aos Olivais.
Cresci no bairro dos Olivais. E sempre voltei lá para fazer tudo: compras, ir ao médico, visitar a família, os amigos. Conheço cada esquina, cada prédio, cada rua, cada café, cada loja, cada rosto. Voltar lá era mais do que uma necessidade, era um conforto. Hoje é um castigo. Custa-me.
Custa-me subir a rua dos meus pais.
Custa-me entrar no prédio do meu pai sem ter que bater na casa da minha falecida avó materna para um beijo.
Custa-me entrar na casa do meu pai. Faz voltar atrás no tempo e revisitar memórias, talvez as melhores de toda a minha vida. Saudades e angústia é o que sinto.
Saio com uma sensação de peso no peito. Custa-me mais do que tudo.