Nos momentos de maior fraqueza do meu pai, habitualmente depois de chamadas de amigos e familiares - os distantes que os próximos não se mostram -, quando chora e soluça, não sei o que lhe dizer.
Receio dizer-lhe que tudo vai ficar bem, quando nunca lhe menti ou omiti fosse o que fosse. Peço-lhe força e relembro-lhe que o poder está na mente. Não posso permitir-lhe, ou melhor, finjo que não lhe permito que se vá abaixo psicologicamente. E depois, choro eu.
Agradeço as manifestações de afecto, de verdadeira amizade e repugno e registo a falta delas.
A falta delas ao meu pai, a mim e especialmente ao meu filho, que heroicamente, assiste à transfiguração do avô, uns dias aguentando com firmeza e com a força de um adulto, outros que simplesmente não aguenta e chora compulsivamente. Para o meu filho, o meu pai é um exemplo, um herói, um companheiro, um avô cool. Custa-me a dificuldade que ele sente em reconhecer este avô, excessivamente magro, de cor doentia e sem brilho, sem vontade, sem energia.
É nestas alturas difíceis e crueis da vida, que precisamos mais do apoio de pessoas especiais, normalmente apoiamo-nos no ombro e no conforto da mãe . Mas eu, apesar de rasgada, triste e zangada com a vida, estou e estarei sempre que o meu filho me procurar , quer no olhar de um pedido escondido de socorro, quer num abracinho de 'boa noite' apertado.
Estou zangada, não escondo. As amigas e os familiares falam-me em aceitação, em vontade de Deus e outras justificações que não consigo encaixar. Sinto hoje o que senti há anos atrás, quando de um minuto para o outro, um ataque cardíaco fulminante matou a minha avó. Mais tarde aceitei interiorizando de que fosse o que fosse, Deus ou a Energia Universal, a compensaram com uma morte santa sem sofrimento, pela bondade pura que sempre a caracterizou.
Acabo a pensar que as maldadezinhas que fazemos e as atitudes egoistas e sacanas que cometemos ao longo da vida, pagamos em sofrimento no final dela. Físico ou psicológico. Se por um lado, ajuda acreditar no karma, por outro assusta.
Preciso que o meu pai não sofra mais. Já deve ser um sofrimento gigante, a certeza do fim próximo, e de deixar de estar na vida de quem amamos.
Triste. Zangada.
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